Veja o vídeo do testemunho do economista Prakash Ratilal, por ocasião do 34º aniversário da Gapi.
“Estive a ouvir tudo que se falou aqui, e perguntava-me a mim próprio dos vários biliões de dólares que entraram no país. Entraram, mas uma parte não entrou. Mas fomos debitados, todos nós, sabemos. Gostaria de ver essas instituições que cederam dinheiro ao país, e outras que deram crédito, a apresentarem os seus relatórios no concreto. Porque, em nosso nome, os cidadãos de Moçambique, muita gente está a viver do bom e é surpreendente que depois destes vários biliões de dólares, talvez triliões de meticais, tenhamos uma situação em que o per capita de Moçambique é de 530 USD, ou talvez de 550 USD . E isto num país de grandes riquezas, e falamos disto todos os dias. Só que qualquer coisa não está a colar.
Eu sempre tive muito carinho pelos trabalhos da Gapi; com dinheiro próprio, ideias próprias, pedindo aqui, pedindo ali e, por vezes, de forma injusta, serem agredidos por poderes burocratas que não viram o trabalho a que a gente assistiu.
A única coisa que posso dizer, é o que alguém dizia, porque não há várias Gapi´s?
Mas a Gapi só é possível existir se houver gente com determinação, com visão muito clara para além de si próprio. Fazer algo que não seja directamente para si, mas que olhe os problemas que temos e ajude a transformar. Esta é a nossa tarefa! Tarefa da nossa geração.
Infelizmente, sobre os problemas do dia a dia, o que vivemos hoje, estão a falar como se o passado fosse muito mau. Estamos aqui, nós, para não deixar que isso seja interpretado assim. Há problemas, problemas sérios, mas nós temos que restabelecer a confiança.
A Confiança é o critério número 1 para o dinheiro aparecer; se não houver confiança não vamos longe. Confiança, competência, aplicação criteriosa e apresentar contas. Este é o sucesso da Gapi, daquilo que tenho acompanhado. Apresentar contas, sem aldrabices, e continuar, apesar de ser maltratado. Temos de acreditar que os poderes de burocratas se esvaiem, vão se embora, e a Gapi a manter-se neste caminho.
Estou muito feliz por ter sido convidado, ter visto aquilo que vocês fizeram e só desejo que façam mais. E temos o direito de poder fazer mais, agora que os recursos naturais estão a produzir algum dinheiro. Fazer com que em qualquer nível em que a gente esteja, pedir para que esses dinheiros venham e sejam aplicados na produção. Sem produção e sem reprodução alargada da economia, que é o que vocês estão a fazer, nós não vamos muito longe. Os 550 USD, em média por pessoa é uma miséria. Imaginem, em 2050 vamos ser 60 milhões de pessoas, hoje somos 33 milhões, 66% serão pobres e 50% pobres extremos.
Se não fizermos diferente, corremos o risco de em 2050, eu não estarei cá, mas para vocês jovens, se não mudarmos a maneira como estamos a fazer, vamos ter 33-35 milhões de pessoas pobres que é a população actual de Moçambique.
Parabéns e só queria deixar um apelo: passem esta vossa semente para muitos mais.”
Veja o vídeo desta intervenção: