As duas organizações acabam de lançar um Fundo avaliado em 4,5 milhões de dólares para financiar actividades das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) inseridas na cadeia de valor do agro-negócio e sistemas alimentares. Os destinatários são, essencialmente, unidades produtivas afectadas pelo covid-19 e por eventos climáticos adversos.

Se já é difícil convencer o sector financeiro a olhar para a agricultura como uma das prioridades a financiar em ambiente social, económico e climático favorável, imagine-se quando o cenário é de eventos climáticos adversos como nos últimos anos.

É neste mesmo ambiente que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), em parceria com a Instituição Financeira de Desenvolvimento de Moçambique (GAPI-SI), decidiram criar, no dia 1 de Março, um Fundo de Resiliência para as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME).

Trata-se de um instrumento financeiro que se pretende sustentável, concebido para fornecer crédito combinado com assistência técnica às MPME afectadas não só pelas calamidades naturais, como pela pandemia do covid-19.

É um Fundo que também funciona como um meio através do qual a GAPI-SI pretende contribuir para que o sistema financeiro tenha mais capacidade para assistir às MPME que enfrentam grandes restrições de acesso ao crédito.

Está orçado em 4,5 milhões de dólares e conta, inicialmente, com a contribuição de quatro milhões de dólares do Governo dos Estados Unidos da América através da USAID e 500 mil dólares da GAPI-SI. A ideia é que este Fundo aplique taxas de juro relativamente baixas se comparadas com as da banca comercial. A GAPI propõe, essencialmente, aplicar para as MPME de jovens e mulheres taxas de juro que vão de 9% a 12%, para as MPME de sociedade ou individuais as taxas variam entre 12% e 15% e para instituições de microfinanças serão de 10%.

A iniciativa beneficiará empresas afectadas pelo covid-19 e, de forma exclusiva, as províncias assoladas por ciclones: Sofala, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Manica e Inhambane

A iniciativa beneficiará empresas afectadas pelo covid-19 em todo o País e, de forma exclusiva, as províncias assoladas pelos últimos ciclones, nomeadamente Sofala, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Manica e Inhambane.

A previsão é que, numa primeira fase, sejam concedidos cerca de 2700 financiamentos, sendo 700 directos e 2000 indirectos, e alcance 680 MPME, um potencial capaz de aumentar em 20% os postos de trabalho neste segmento.

Os grandes fundamentos da aposta

O presidente do Conselho de Administração da GAPI-SI, Rafael Uaiene, defende que “há necessidade de se dotar o País de instrumentos para que as MPME se tornem resilientes às calamidades naturais na nossa região, e na cidade da Beira em particular, o mais rápido possível”.

Para o responsável, esta ideia representa o reconhecimento de que os efeitos das mudanças climáticas exigem de todos respostas capazes de dar robustez ao tecido empresarial, para que possa, primeiro, resistir aos choques climáticos reduzindo o risco e enfraquecendo o seu impacto e, depois, transformar-se através da capacitação e de uma melhor governação num bom ambiente de negócios.

“Acreditamos que a criação deste Fundo é uma das respostas que o empresariado, sobretudo o mais vulnerável, nomeadamente as mulheres e jovens, estava à espera para ser mais resiliente”, sublinhou.

Já a representante da USAID, Mary Hobbs, salientou que para o alcance da resiliência desejada, alguns pressupostos deverão ser considerados, entre os quais a necessidade de fortalecer a capacidade de gestão de negócios e práticas financeiras e profissionais adequadas por parte do grupo-alvo.

“Um dos grandes desafios que se colocam consiste na restauração da capacidade produtiva do sector empresarial, por isso a USAID criou este Fundo de Resiliência como contributo para os esforços do Governo de Moçambique e da sociedade em geral para a revitalização da economia”, explicou a responsável.

O presidente da Associação Empresarial da Beira, Félix Machado, manifestando gratidão pela iniciativa, deu ênfase à transparência na gestão do Fundo para que traga os resultados esperados. “Solicitamos ainda uma maior transparência com a divulgação de todos os beneficiários deste processo. É muito bom saber que há fundos que vêm à nossa província, mas quando não temos dados sobre o que está a acontecer com este dinheiro fica complicado entender os passos que estamos a dar.

Historicamente, há um problema de transparência na gestão dos fundos que recebemos e espero que neste caso façamos a diferença”, apelou.

Para o presidente do Conselho Empresarial Provincial, Ricardo Cunhaque, este é o tipo de crédito que se adapta às necessidades das MPME, por isso acreditam que vai permitir a recuperação dos sistemas agrícolas alimentares, principalmente pelo seu foco nos negócios geridos por mulheres e jovens.

Texto Nário Sixpene • Fotografia Mariano Silva