Testemunho do economista e Presidente da Bolsa de Valores de Moçambique, Salim Cripton Valá, durante o lançamento da Plataforma F4SD.
“Quero cumprimentar a Gapi pelos 34 anos, e por prosseguir com uma visão e ação de relevo para o desenvolvimento de Moçambique, em particular para as pequenas e médias empresas, sobretudo as das zonas rurais. Os desafios que nós temos hoje no país, não podem ser isolados do que acontece hoje no globo. O mundo está muito turbulento, a economia mundial está a reconfigurar-se e problemas que pareciam localizados numa parte do globo, já estão também a ocorrer noutras regiões, e vimos muito bem o que aconteceu com a Pandemia da Covid-19, onde países desenvolvidos também ficaram seriamente afectados por essa pandemia. Portanto, há novas tendências geo-estratégicas, novos desafiamos, mas também temos aqueles problemas antigos que conhecemos.
Em 1969, realizou em Nova Deli, Índia, uma conferência muito importante, sobre o desenvolvimento mundial, na qual participaram cerca de 3000 pessoas e Dudley Seers, economista britânico e Director do Instituto de Estudos de Desenvolvimento da Universidade de Sussex, fez uma intervenção muito profunda sobre o significado do desenvolvimento. Iniciando por fazer as seguintes perguntas: O que está a acontecer com a pobreza? O que está a acontecer com a desigualdade? O que está a acontecer com o desemprego? Se um ou dois desses problemas estivessem a agravar-se, e principalmente se fossem os três, seria estranho chamar ao resultado disso de desenvolvimento, mesmo se o PIB desse país fosse muito elevado, de dois dígitos. Os problemas abordados por Seers em 1969, em Nova Deli, ainda persistem em muitos quadrantes do mundo. Naquele evento, Seers convidou-nos a repensar a doutrina de desenvolvimento económico seguida até então, muito assentes em variáveis quantitativas.
Aqui surgem instituições como a Gapi, uma instituição financeira de desenvolvimento, que procuram ajudar a resolver problemas prementes como a fome, a pobreza, as desigualdades e o desemprego. Eu gostei muito do lema do evento, focado em promover o desenvolvimento sustentável e inclusão financeira. Não é desenvolvimento económico apenas, mas sim o desenvolvimento integrado, que seja sustentável e inclusivo. Portanto este é que é o grande ponto das estratégias de desenvolvimento.
É preciso ampliar os acessos e manter a qualidade. Por exemplo, ter uma inclusão educacional, não se restringe apenas ao acesso, devendo estar ligado a qualidade e relevância. Se tivermos uma boa inclusão financeira, aquele debate que tínhamos com meu amigo Dr. António Souto na década de 1990, e que depois levou o Professor Muhammad Yunus, autor do livro “O Banqueiro dos Pobres”, a vencer o Prémio Nobel da Paz, por defender que o microcrédito é um instrumento poderoso para combater a pobreza e promoção da paz e da estabilidade. O Dr. Prakash que está ali, conhece bem essas nossas discussões, e como este assunto é ainda candente depois de 23 anos do século XXI, onde nós não temos nas nossas escolas primárias os alunos a estudarem noções básicas de finanças, investimentos, mercados, digitalização. Noutros países do mundo a abordagem, os métodos e os conteúdos alteraram-se para acompanhar a dinâmica dos tempos, e estão a preparar as crianças, adolescentes e jovens para entenderem melhor assuntos de gestão financeira, investimentos, poupança e inclusão financeira.
Na altura que eu era Director Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural implementou-se a iniciativa dos “7 Milhões”. Essa experiência ensinou que o acesso ao financiamento não é o único problema, pois há necessidade igualmente de capacitar os empreendedores. Muitos dos beneficiários dos “7 Milhões” não melhoraram significativamente a sua situação económica e o seu bem-estar, e gerou-se o mau hábito de pensar que dinheiro concedido a crédito pelo Estado não é para ser reembolsado. Além da inclusão educacional e financeira, é também vital promover a inclusão digital e a inclusão mercadológica. Essas quatro dimensões da inclusão são vitais para o desenvolvimento económico inclusivo e sustentável.”
Veja o vídeo: